Política

Talvez tenhamos que pensar em como fazer boa Política para escapar do abatedouro informacional das redes…

Fazer Política hoje implica mergulhar em um lodaçal de desinformação, hipercomunicação e hedonismo. Tudo está posto diante dos nossos olhos – e não é apenas o resultado expresso ascensão de Donald Trump e de todo o caos regado por mentiras e ódio com o qual ele e seu espectro político ideológico lidam. A questão pede, de entrada, atenção. Foi, é e sempre será sobre atenção e de como esta foi tomada por uma cultura expandida, fragmentada e, porque não, descartável que não nos quer atentos.

O lugar da política hoje é do descarte simbólico, tal qual as redes… Enveredar por tal lugar implica sujar as mãos e deixar de lado ideais, valores e preceitos em detrimento de visibilidade, tempo de consumo e do imediato pretensamente informativo: é a captura e sequestro de qualquer atenção e a inibição de qualquer reflexão que estará sempre na ordem do dia.

Tanto a eleição de Donald Trump quanto a dos demais populistas de ocasião que certamente virão a seguir beberão na mesma receita: reduzir as discussões importantes a elementos irrelevantes ou desconexos e alimentar a espiral de desinformação e recompensas imediatas para inibir a atenção a tudo o que deve realmente importar.

Isso, de certa forma, vai na direção do que diferentes reflexões sobre a cultura e as redes têm apontado: a dissolução dos significados em detrimento da ascensão de uma cultura da instantaneidade hedonista. O ambiente social, cultural e político continuamente alimentado por eventos, ações e imagens que mantém a todos envolvidos em um contínuo de fruição ininterrupta alinhado a um projeto de sentido único.

A Política transformada em um turbilhão hiper-espetacular no qual o usuário é incapaz de distinguir o que é real e o que é construção e, no fim, escolhe a apatia.

No fim, contemporaneamente, a chave para ressignificar a Política como ora a conhecemos implicará reavivar a atenção e retirar as maiorias da sombra apática que a todos parece envolver.

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Música

Aquele Disco Massa: “VU” do Velvet Underground é aquele amontoado de sobras que daria um discão…

E eis que, no ora distante ano de 1985, o The Velvet Underground despeja um disco pouco mais de uma década após encerrar suas atividades. E, convenhamos, “VU” não é qualquer disco: são sobras de estúdio daquele que seria o sucessor do “The Velvet Undeground” junto à Verve – justamente o álbum que traz pancadas como “Candy Says”, “Pale Blue Eyes” e “Beginning To See The Light” dentre outras canções.

Era o primeiro disco após a debandada de John Cale e o segundo, pelo que se conta, viria justamente das sessões desse “VU”. A questão em torno deste disco é que ele foi engavetado e todas as canções nele só seriam encontradas anos depois quando a gravadora preparava uma reedição dos discos do Velvet…

Para alguns, a “rabugice” de Lou Reed foi responsável pelo engavetar de canções como “”I Can’t Stand It”, “Stephanie Says” e “I’m Sticking with You”, mas o fato é que o disco ganhou a luz do sol e as canções brilhariam fulgurantes.

Hoje estava em casa e resolvi colocar a edição brasileira que tenho desse disco – incrível, mas, sim, “VU” ganhou uma edição nacional simples mas sincera demais… O disco toca com toda a majestadade de quem ficou esperando toda uma existência para se mostrar. Adoro ele e sempre que a memória pede ele ganha um tempo no toca-discos…

É um álbum que complementa e amplia uma musicografia única, meus amigos…

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Artigos

O que dizer dessas redes, seus donos e do apreço pelo pior!?

Zuckeberg, dono da Meta, criador da Rede Social, é alguém ávido por grana. Apenas grana… É ela, a grana, e seu querido irmão, poder, que atiçam o interesse de Zuckeberg por jogar ainda mais lama no lodaçal desinformacional chamado Meta/Facebook.

É nessa lama que Trump pretende retomar seu reinado sobre um mundo de brutos e extremistas. Não é sobre a informação ou liberdade, mas sobre como tolher ambos para que o poder flua sem amarras e os inimigos daqueles que o detém sejam retirados do caminho.

A fala de Zuckeberg em que prega a retirada de controles sobre os discursos no Facebook tem aquele retrogosto de chorume característico de quem sabe ter sido apartado de uma festa, mas quer dela participar de qualquer jeito.

Não se engane, não é sobre comunicação, informação ou preocupação com a qualidade do que se difunde: Zuckeberg também quer reinar sobre a mentira – e não fake news, sejamos francos – e participar deste banquete que se inicia…

O fluxo nas redes ditará o futuro e a ordem política que se seguirá dependerá de quem estará à frente ou resistindo a tal torrente.

Não por acaso, talvez devessemos nos permitir uma leitura atenta de Innis: para ele, quem deseja o poder em um determinado momento histórico e social deve ter atenção aos modos e métodos de transmissão de saberes e informações que caracterizam e encerram tal instante…

Zuckeberg parece entender Innis muito bem – mesmo que tardiamente…

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Artigos

Para escrever (mas não só), às vezes é preciso algo além da vontade…

É isso…

Há algum tempo, no meu caso, algo se quebrou ou foi perdido em relação à escrita. Não foi apenas uma diminuição do desejo de escrever, mas escrever enquanto ato.

Se foi, poderia dizer… Não para “não mais”, mas, pelo menos durante muito, a escrita me pareceu sem sentido – como se tudo o que tivesse para dizer não fizesse mais sentido ou relevante.

Talvez a pluralidade de espaços de escrita termine por limitar a vontade de escrever e ative mais o tempo de sorver que o tempo de criar.

Algo bastante estranho, diria… Mas, dada minha atual perspectiva, um tema que certamente tem merecido uma atenção mais dedicada, visto que, creio, escrever por escrever, talvez seja uma saída possível para tudo isso.

Esse meu writer’s block particular e preguiçoso pede provavelmente que eu apenas escreva em um fluxo contínuo e dando vazão ao que atravessa minha cabeça.

Há tanto sobre o que escrever e um tempo relativo tem sido desperdiçado no consumir o que outros pensam, gravam, filmam e por aí sigamos…

Como digo no título, por vezes é necessário algo além da própria vontade – e isso vale para quase tudo -, mas, para a escrita (esta, ato solitário), é algo que nos exige bem mais que apenas vontade: pede compromisso; pede apreço; cuidado…

Pode ser uma promessa vã – mais uma… Por outro lado, talvez consiga dar vazão a este tanto que quero dizer, mesmo que em poucos parágrafos ou poucas linhas.

Tentemos, né!?

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