O governo – ou desgoverno – de Jair Bolsonaro baila bêbado à beira do abismo. Já sabíamos que assim seria, mas não imaginávamos que as nossas piores previsões se confirmariam em mirrados cinco meses. Não tivemos sequer um mês em que a turba de mentecaptos que conduz tal governo de néscios acertasse uma sequer: Bolsonaro conseguiu incendiar o país contra si e a prova está no sucesso das manifestações desta semana contra os cortes nas verbas para Universidades e Institutos Federais.
Milhares de “Idiotas Úteis” e “Imbecis” ganharam as ruas no dia 15 e mandaram um recado que desconcertaram tanto Bolsonaro quanto seus séquito de ineptos, desafiando o mito e reduzindo-o a uma maçaroca em completo desespero e despreparo.
Jair Messias Bolsonaro está nu em seu quinto mês com fortes indicações de que, sem um redesenho profundo e um trabalho de descontrução/contenção dos arroubos delirantes do presidente eleito, este regime terminará de forma não tão súbita como muitos poderiam imaginar, mas ainda assim supreendente: seja por força de um eventual e por hora hipotético processo de impeachment – motivado por deslizes do presidente ou por eventuais tentativas deste de intervir em casos que relacionassem eventualmente seus filhos em práticas nada louváveis – ou por sua capitulação pura e simples.
Não por acaso, depois do presidente distribuir entre os seus um artigo confuso que sugeria o país como que “sequestrado por corporações” e que forças obscuras conspirariam para transformar o Estado em algo ingovernável, as apostas que Bolsonaro poderia lançar mão das mesmas e confusas “forças ocultas” que conspiraram para que Jânio Quadros renunciasse em 1961 ganharam força.
Bolsonaro e Jânio Quadros guardam semelhanças intrigantes, mas esclarecedoras: como Jânio, Bolsonaro foi eleito por uma composição de partidos sem relevância – Jânio era independente; Bolsonaro usou o PSL como legenda -, coleciona desentendimentos com os poderes legislativo, detém uma notória inabilidade para contornar seus problemas e, como não poderia deixar de ser, rapidamente tem visto sua maioria desmoronando em praça pública.
O destino de Bolsonaro é um incógnita, verdade… Mas tão verdadeira quanto é a possibilidade de uma história relativamente recente repetir-se. Estas semelhanças entre o destino de Jânio Quadros e o atual cenário envolvendo Bolsonaro e os seus demonstra que a História, com capitular, é algo cíclica. Este redesenho de forças em curso aponta que o jogo em curso é também imprevisível…
Em todo caso, o vice de Bolsonaro está neste momento na China. Em 1961, estava João Goulart. O resto, claro, é História: uma já escrita; a outra em processo. Um processo, entretanto, bastante semelhante àquele experimentado por Jânio. Se Bolsonaro souber ler e interpretar algo da História verá que as tais “forças” que agiram sobre Jânio estavam tão somente na cabeça dele…