Fazer Política hoje implica mergulhar em um lodaçal de desinformação, hipercomunicação e hedonismo. Tudo está posto diante dos nossos olhos – e não é apenas o resultado expresso ascensão de Donald Trump e de todo o caos regado por mentiras e ódio com o qual ele e seu espectro político ideológico lidam. A questão pede, de entrada, atenção. Foi, é e sempre será sobre atenção e de como esta foi tomada por uma cultura expandida, fragmentada e, porque não, descartável que não nos quer atentos.
O lugar da política hoje é do descarte simbólico, tal qual as redes… Enveredar por tal lugar implica sujar as mãos e deixar de lado ideais, valores e preceitos em detrimento de visibilidade, tempo de consumo e do imediato pretensamente informativo: é a captura e sequestro de qualquer atenção e a inibição de qualquer reflexão que estará sempre na ordem do dia.
Tanto a eleição de Donald Trump quanto a dos demais populistas de ocasião que certamente virão a seguir beberão na mesma receita: reduzir as discussões importantes a elementos irrelevantes ou desconexos e alimentar a espiral de desinformação e recompensas imediatas para inibir a atenção a tudo o que deve realmente importar.
Isso, de certa forma, vai na direção do que diferentes reflexões sobre a cultura e as redes têm apontado: a dissolução dos significados em detrimento da ascensão de uma cultura da instantaneidade hedonista. O ambiente social, cultural e político continuamente alimentado por eventos, ações e imagens que mantém a todos envolvidos em um contínuo de fruição ininterrupta alinhado a um projeto de sentido único.
A Política transformada em um turbilhão hiper-espetacular no qual o usuário é incapaz de distinguir o que é real e o que é construção e, no fim, escolhe a apatia.
No fim, contemporaneamente, a chave para ressignificar a Política como ora a conhecemos implicará reavivar a atenção e retirar as maiorias da sombra apática que a todos parece envolver.