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O mal-estar nada aparente em Everyday Robots de Damon Albarn
Damon Albarn é um gênio da música. O foi quando esteve no Blur, se tornando onipresente através da década de 1990, e o fora também nos anos 2000 com seu Gorillaz. Sim, Albarn é gênio. Entretanto, ainda que em sua condição de bardo, isto não significa dizer que seja infalível. Esta tal falibilidade é posta à prova com sua recente investida solo, o disco Everyday Robots.
Digamos assim, sem muitos rodeios: o disco é de um mau humor monumental. Não que tal idéia seja algo ruim. Ao longo da última década tivemos toda uma produção do Radiohead, hipsters e outros sujeitos do gênero mostrando o lado soporífero da Força, mas, especialmente quando escutamos o disco de Albarn e o lamento que o atravessa, é inevitável dizer:
– Moço, menos ardor com as chibatadas, tá!?
Everyday Robots é um disco chato. Não é apenas mau humorado ou “mala” – como, por exemplo, o álbum Portishead de 1997 que, de longe, é o meu favorito quando o motivo são os dissabores do mundo -, é simplesmente chato. Dispensável, pra falar a verdade: mais parece uma sessão perdida de alguém com os cotovelos inchados parida de uma audição do The Fall do Gorillaz.
Dou um desconto por ser a primeira investida “solo” de Damon Albarn – mesmo que as aspas se mostrem necessárias para afirmar isso, afinal, o sujeito atravessou a última década com mais projetos do que minhas mãos podem contar. Mas é só um desconto breve porque, do apanhado de músicas destes Everyday Robots, creio que pouco se salva – sem contar que mais parece uma sessão perdida do projeto Kinshasa One Two.
Dentre aquelas que se sobressaem, entre seus mortos e feridos, está a faixa-título. Everyday Robots, a música, estabelece uma certa conversa com um outro projeto anterior de Albarn: o álbum de Bobby Womack, The Bravest Man in The Universe. É estranho, mas a chave de resposta para que possamos compreender o quanto este Everyday Robots, o álbum, é irregular está justamente na profusão de idéias que atravessa a trajetória de Albarn.
Se nas duas últimas décadas ele se fez onipresente – seja colaborando com outros ou criando projetos buscando a expansão de sua verve criativa -, esta tal não se mostra em seu disco-solo. Hostiles parece ter saído de algum momento do The Good, The Bad & The Queen; Lonely Press Play, de suas experimentações hipertecnológicias para o The Fall; Mr. Tembo, de algum momento do Plastic Beach…
No fim, como disse no início, mesmo gênio, Albarn peca neste Everyday Robots por apresentar uma espécie de apanhado de sua última década, mas envolvida pelo signo da irregularidade. No fim, um disco chato: por isso, prefiro esperar a segunda vinda de Damon Albarn…
Um pouco de Nova Psicodelia…
Um gênero que simplesmente venho acompanhando nos últimos tempos é a tal New Psychedelia – ou Nova Psicodelia, se preferir. Bandas como Harlem, The Flaming Lips, The War on Drugs, The Black Angels ou Black Lips são alguns do exemplos que se enquadram neste gênero.
Pensando nisso, vai uma lista do gênero procês e que venho cultivando com aquilo que acho bacana na tal “Nova Psicodelia”. Aproveitem, mas preciso lembrar que acrescentei algumas bandas que julgo pertencerem ao lugar das citadas acima. Curtam…
É tempo de Copa, mas…
A Copa no Brasil terminou muito antes de ter começado. Uma das minhas primeiras recordações da infância é da Copa de 1982: lembro das casas decoradas, ruas pintadas e um sentimento de que aquele esforço valia a pena – especialmente porque a Seleção estava jogando e que tudo aquilo representava um ideal, um sentimento compartilhado de realização coletiva. Me parece, no entanto, mesmo quando comparado com aquele sentimento em relação ao Mundial de 2010 na África do Sul, que a Copa é natimorta: fala-se em investimentos, legado, retorno, mas, o tal sentimento de realização coletiva, que seria o mais significativo, sequer mostrou-se.
Uma pesquisa divulgada no dia 22/04/2014 deu a dimensão de tal sentimento ausente: 83% dos brasileiros, aponta o levantamento da Associação Comercial de São Paulo, disseram que não realizariam gastos adicionais para a Copa do Mundo. Significa dizer que a maioria da população não comprará uma TV nova, sofá ou pretende contribuir para deixar sua rua ou condomínio preparados para os jogos da competição.
Uma outra pesquisa, desta vez do Datafolha, apontou que cerca de 55% dos brasileiros acredita que a competição trará mais prejuízos que benefícios para o país. Além disso, a mesma pesquisa mostra uma divisão entre os favoráveis e contrários à competição no país: 44% dos brasileiros são favoráveis à realização da Copa contra 41% contrários – e 10% da população sem dar a mínima para ela. São números expressivos e que à sua maneira atribuem o contorno do que ora percebemos nas ruas.
O brasileiro, no geral, graças à maneira como a organização da competição se deu em nosso país, expressa sua descrença em um país que é eterno projeto em um projeto mal conduzido. A Copa do Mundo no Brasil detinha todas as componentes para mostrar o que temos de melhor: nossa diversidade, alegria, carinho e prazer em acolher. Entretanto, graças a todos, as ruas permanecerão sem cores, sem bandeiras e sem o tal sentimento compartilhado de realização coletiva que tanto nos alimentara em momentos anteriores.
O que resta da Copa do Mundo de 2014 no Brasil é a expressão de um outro sentimento comum e igualmente compartilhado: de que falhamos coletivamente. Aceitamos o engodo e passamos a pensar o Mundial não como um povo, mas como a Fifa, vendo-o mais como um negócio e não como oportunidade para expressar aquilo que reconhecemos como nosso melhor: nossa unidade.
A Copa do Mundo no Brasil foi perdida e ela nem mesmo começou. Que venha uma outra fora daqui para que possamos exorcizar este sentimento que incomoda, mesmo ilhado.
Hipertecnologias e educação
Podem afirmar em contrário, mas a maneira como as hipertecnologias, seus dispositivos e ambientes, são empregados quando associados à educação geralmente me levam ao sono. Na verdade, especialmente neste quesito, a distância que separa “mestres” e “pupilos” é gritante.
Provavelmente o grande salto para a educação e seu diálogo com o entorno hipertecnológico recente somente ocorrerá quando esta distância entre alunos e professores for superada e o instrumental colaborativo-tecnológico ora disponível se consolidar em uma verdade que transponha os usos e a imprevisibilidade destes – ora nas mãos das maiorias – se transformando em um outro instrumental: este a serviço da promoção, difusão e distribuição do conhecimento através e além das salas.
Esta, me parece, a fronteira a ser superada quando procuramos encarar os processos educacionais e o diálogo destes com as hipertecnologias: cada educador precisa reconhecer contemporaneamente que as diferentes telas são algo incontornáveis. Aceitá-las, adotá-las e expandí-las, envolvendo-as com mais e mais saber, se tornará regra.
Quando reconhecermos tal condição, as paredes das salas e aqueles dentro delas descobrirão o quão valioso é aquele instrumento hipertecnológico, colaborativo e libertário que trazem em suas mãos.
O primeiro post…
Este, talvez, seja o mais difícil de todos. Entretanto, como bem disse Kênia, “um blog é menos seu visual e mais seu conteúdo. Sou obrigado a concordar: agora que começo a me envolver em um novo projeto e na criação de um novo espaço de conversação, me dei conta de que estava mais preocupado com o visual deste do que com as idéias que poderia levar até ele.
Este formato do blog deverá perdurar por algum tempo. É algo temporário até que sua nova roupa esteja pronta. Mas, ainda assim, o blog não está nu: sua roupagem atual foi escolhida levando em conta um princípio que considero básico: pouco importa o visual de algo se o que o preenche tiver – ou fizer -algum sentido para alguém.
Neste primeiro momento, encampar este projeto tem me satisfeito em muitos aspectos. Para chegar até aqui e escrever este primeiro post, me vi obrigado a meter literalmente a mão na massa: configurar um servidor linux Ubuntu; instalar e configurar um servidor Apache desde o zero; instalar, configurar e rodar um servidor de banco de dados MySql; botar pra funcionar o serviço PHP5; e, por fim, descobrir como diabos botar em funcionamento o WordPress sobre tudo isso.
Confesso, foi uma experiência desafiadora e muito agradável. Foi bacana descobrir coisas, esculhambá-las literalmente e, depois disso, fazê-las finalmente funcionar.
Esta me parece ser a principal questão aqui. Me importa o visual, mas importa mais a diversidade de experiência, idéias, questões, enfim, conteúdos concebidos e que inevitavelmente preencherão tal espaço. Se estes forem suficientes para atiçar a curiosidade e estimular a volta, melhor. Se não, bem, às favas.
O que posso dizer, de início, é que o caminho até aqui foi bem interessante.