Esquadrinhando

Vocês deveriam ler “Os X-Men” de Jonathan Hickman, amiguinhos…

Comecei a ler os X-Men muito cedo e, sem medo de errar, sempre foram os personagens da Marvel Comics que melhor capturavam minha atenção. A criação de Stan Lee e Jack Kirby representa aquela síntese que mescla rejeição, superação, senso de comunidade e de luta contra injustiças: prato cheio para crianças/adolescentes em busca de um lugar.

Encontrei o meu com os Fabulosos X-Men que vinham nas páginas da revista Superaventuras Marvel da Editora Abril lá nos anos 1980: “Só dói quando ele ri” aparecia na edição 14 e era a primeira aventura de um arco escrito por Chris Claremont e ilustrado por John Byrne narrando a luta dos personagens contra o vilão Arcade.

Edição de X-Men #1 de Jonathan Hickman pela Panini Comics.

E por que falar de um grupo tradicional de personagens que, ao longo dos anos, passou por tantas mudanças, idas e vindas – com personagens morrendo, ressucitando, morrendo novamente, ressucitando novamente, sendo perseguidos, alguns exterminados, ressurgindo novamente, tudo em uma espiral contínua de transformações!?

Sou suspeito, mas creio que a nova fase dos X-Men escrita por Jonathan Hickman – responsável por uma reformulação memorável no Quarteto Fantástico em que promoveu um importante redesenho na mitologia da “primeira família” da Marvel – é de longe uma das mais profundas transformações já sofridas pelos personagens (algo ainda mais elaborado que a passagem de Grant Morrison lá na primeira metade dos anos 2000).

Hickman transforma os X-Men em uma força política: os personagens não são mais párias superpoderosos fantasiados que resistem ao preconceito e ódio, mas se tornam uma nação autônoma que se apresenta ao planeta estabelecendo seu lugar e conclamando iguais a compartilharem destes mesmo espaço: heróis ou vilões, todos os mutantes são bem-vindos nesta nova configuração estabelecida.

Para tanto, não há Genosha – destruída no arco inicial dos Novos X-Men de Grant Morrison por um grupo de Sentinelas descomunais e selvagens -, mas Krakoa: a ilha viva criada por Len Wein e Dave Cockrum e que fez sua primeira aparição em 1975 nas págins de Giant-Size X-Men #1 em que foram apresentados os Novos X-Men.

Entretanto, Krakoa não é apenas uma ilha, mas um ecossistema mutante que, na proposta de Hickman, se torna abrigo para uma nação autônoma e refúgio todos os mutantes do planeta.

Para tanto, Xavier, Magneto, Moira Moira McTaggert transformam a ilha em um espaço restrito aos mutantes: só aqueles que possuem genes mutantes têm permissão para acessar os diferentes portais que levam à Krakoa.

Mas Jonathan Hickman puxa outras idéias da cartola: como forma de barganhar sua autonomia e existência, os mutantes passam a oferecer as Flores de Krakoa como contrapartida a suas reivindicações.

São três drogas sintetizadas e que oferecem: a possibilidade prolongamento da vida em até cinco anos; um antibiótico universal adaptável; e um último remédio capaz de curar doenças mentais em seres humanos.

Os mutantes se transformam, na visão de Hickman, em um agente político especialmente importante para o cenário mundial. Além disso, Hickman lança mão de uma das mais interessantes construções em torno dos mutantes: o fantasma da morte não passa por Krakoa.

Depois de muito, Charles Xavier descobriu como copiar a mente de todos os mutantes e armazená-las em Krakoa. Além disso, com um grupo de mutantes específicos e que passaram a viver na ilha, tornou-se possível a produção de cópias exatas dos mutantes que eventualmente morrem e, quando ressucitados, Xavier “regrava” suas mentes.

A abordagem de Hickman é revolucionária porque apresenta os X-Men e toda sorte de personagens deste universo como finalmente donos de seus destinos e dispostos à resistência contra quaisquer ameaças.

Uma parte importante dessa resistência é a própria Moira McTaggert, ou Moira X, que, descobrimos na série, é mais que apenas uma brilhante cientista, mas uma mutante-chave para a ascensão deste novo cenário para os X-Men.

Os cinco primeiros volumes dessa saga escrita por Jonathan Rickman e ilustrada por Pepe Larraz estão disponíveis nas melhores bancas e livrarias. Eu, no seu lugar, leria essa que é desde já uma das fortes candidatas a melhor arco de aventuras dos X-Men.

A mudança proposta por Rickman é emblemática e reverberará durante muito nos personagens e não mexe apenas com a narrativa, mas acrescenta componentes como política, respeito às diferenças, autodeterminação dos povos, resistência e preservação ambiental.

Está tudo lá. Jonathan Rickman acerta ao utilizar os clássicos mutantes de Stan Lee e Kirby – que nasceram sob o signo da diferença e resistência – para discutir o presente e o futuro. E este arco é justo sobre como lidar com o futuro e fazê-lo acontecer…

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Miracleman briga de igual para igual com Watchmen… Aceitem!

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O título é uma provocação. Mas depois de ler o último volume da fase Alan Moore à frente de Miracleman – milagrosamente publicada pela Panini Comics no Brasil -, a provocação fará sentido…

Não tenho dúvidas de que, sim, a colaboração de Moore em Miracleman pode ficar anotada como uma daquelas obras-primas jamais produzidas para as Histórias de Quadrinhos.

Uma obra-prima que alimenta e é percebida através dos ecos, de sua reverberação através de outras obras igualmente únicas de Moore. A voz que alimenta a narrativa de Miracleman ao longo dos três arcos canônicos – Sonho de VoarA Síndrome do Rei Vermelho Olimpo – de Alan Moore se mostra presente em momentos tão diferentes quanto próximos: WatchmenA Saga do Monstro do Pântano ou mesmo uma série interrompida em seu nascedouro como Big Numbers trazem elementos que podemos atribuir à experimentação que alimenta Miracleman.

Capa de Miracleman #15, publicada no Brasil pela Panini Comics

Capa de Miracleman #15, publicada no Brasil pela Panini Comics

Os três arcos de Alan Moore à frente do personagem resultam de uma revolução: o personagem criado por Mick Anglo na década de 1950 foi uma saída para um imbróglio internacional quando a DC Comics decidiu deixar de publicar histórias do Capitão Marvel no Reino Unido complicando a vida da L.Miller & Sons LTD. Miracleman foi então uma alternativa para que o público britânico continuasse, se não com Capitão Marvel, com um equivalente – e este foi publicado entre 1954 e 1959 pela editora com relativo sucesso.

A revista Warrior, da Quality Comics, decidiu reviver o personagem e pediu a Alan Moore para assumir o título. O que temos a partir daí é algo sem paralelo…

Uma revolução pode ser o termo ideal para definir este mesmo algo porque Moore não só toma para si a criação de Mick Anglo, mas a transforma em algo ampliado, grandioso: o que antes era uma versão ainda mais caricata do Capitão Marvel da DC Comics, se transforma em algo descomunal; se torna uma força da natureza.

Miracleman de Moore é, mais  que um personagem colorido de uma HQ, um experimento filosófico: o catalisador das diferentes inquietações que o próprio autor desenvolverá até ali no auge daqueles anos de Margareth Tatcher, tempo de desrespeitos ao meio ambiente e à vida… Um período que exigia uma perspectiva acerca do super-humano e o que este significaria naqueles tempos.

Por isso a fragilidade de Michael Moran e a urgência quando do ressurgimento do Miracleman depois que a palavra-chave “Kimota” fora pronunciada no primeiro arco desta fase. Mike Moran sai de cena para a chegada do super-homem, do übermensch ali representado e do que este espera para aquele mundo onde despertara.

Miracleman #1Alan Moore nos mostra uma de suas criações mais humanas mesmo que, ela, Miracleman, não o seja ou que, mesmo o sendo, a negue ao longo da trama, já que, durante os dezesseis números da saga vemos um ser humano abrindo espaço e morrendo para dar e ceder lugar a algo além.

Assim, tanto quanto em outras criações de Moore, é a chegada do novo que importa em Miracleman. O mesmo novo que, em Watchmen, era a busca por um fim das hostilidades belicosas de uma Guerra Fria fora de controle ou que, em A Saga do Monstro do Pântano, estava na descoberta de uma realidade conectada a um ser/deidade maior que a realidade.

Moore trabalhou por duas vezes com outro uma representação do übermensch nas HQs: com o Superman criou aquelas que são consideradas histórias definitivas do personagem. Porém, diferentemente do que acontece em Miracleman, Moore não invadira com suas idéias as perspectivas filosóficas que impregnam o superhumano. Este, por sua vez, é o mote de sua recriação em Miracleman

A alegoria de Moore ao recriar o personagem de Anglo, antes de tudo, procura refletir sobre o impacto do superhumano em uma hipótese frente ao mundo real – algo que o próprio Moore chegaria a experimentar posteriormente. Mas não só: do quão revolucionária esta presença seria à humanidade e quais saltos estas teria que dar para seguir.

Miracleman de Alan Moore finalmente foi publicado em sua totalidade por aqui. Mais uma vez, comprovamos o gênio do bruxo. A seguir, vejamos como a história criada pelo “Autor Original” – como o próprio Moore pediu para ser creditado nesta reedição da série, uma vez que ainda está às favas com a indústria das HQs – seguirá seu curso com Gaiman e outros.

O que posso dizer é que a série foi um daqueles achados indispensáveis e que me sinto feliz por poder ler mais essa obra-prima.

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Tudo morre. Nos quadrinhos, sempre; nas telas, não será diferente…

Painel de Secret Wars da Marvel Comics

Assisti há alguns dias a Capitão América: Guerra Civil. O novo filme do universo cinemático da Marvel Studios me surpreendeu, confesso, por mostrar-se uma das crias mais coesas desta nova leva de filmes e séries calcados no universo narrativo da Marvel Comics.

Entretanto, algo me chamou a atenção neste último filme – e também na segunda temporada de Demolidor: uma sutil e por vezes imperceptível escalada para o fim. Não o fim de toda a narrativa, mas as portas para uma escalada de conflitos que levará certamente à morte de alguns personagens.

Não, não é algo raro nos quadrinhos. Se levarmos em conta que a Marvel Comics liquidou de uma vez vários de seus “universos” ficcionais recentemente – procurem pelo arco “Tudo Morre” dos Novos Vingadores e vocês entenderão ou, mais ao final, no arco “O Tempo Se Esgota”, prelúdio para as novas Guerras Secretas -, nas telas a dinâmica aparentemente segue na mesma direção.

Há uma atmosfera de conflito iniciada com a tal Guerra Civil e que se desenvolverá mais e mais nos próximos filmes da franquia Vingadores, disso eu não tenho dúvidas. No entanto, resta saber quais cairão até lá. Tenho algumas apostas, mas, bem, prefiro não opinar até confirmar minha teoria…

A questão é bem simples, no entanto: o universo cinemático da Marvel Studios está se expandindo muito rapidamente e as diferentes frentes narrativas e seus personagens parecem culminar para algo grandioso. Conhecendo bem a editora, não seria estranho que em tal processo de expansão alguns personagens terminassem fora do caminho. Vejam bem: não os mais emblemáticos, mas aqueles que estão à margem e, em algum caso especial, algum grande para dar uma “engrenada” no drama…

A verdade, creio, é que a temporada mortífera para alguns personagens deste tal universo cinemático poderá começar com a estréia da primeira parte Vingadores: Guerra Infinita, em maio de 2018: de longe o primeiro grande evento que a Marvel Studios pretende levar a cabo.

A partir daí, creio, será uma sucessão de grandes eventos e produções em diferentes meios que culminarão em uma grande e espetacular catarse. Uma catarse que, é certo, desagradará muitos fãs deste universo audiovisual elaborado pela Marvel, mas que, algo relativamente comum aos que acompanham as Histórias em Quadrinhos, não causará tanta surpresa entre os que conhecem algo do universo impresso da editora.

Não é que seja uma surpresa, mas o universo cinemático da Marvel Studios é apenas mais um. Tudo o que acontece nele, bem, está distante daqueles desenvolvidos em outros meios. A morte, neste contexto, é também renovação. Vejamos até quando a Marvel Studios seguirá até que tudo morra.

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As 10 Melhores Histórias do Batman

E não é que o Batman, aquele detetive sombrio criado por Bob Kane e Bill Finger, chegou aos 75 anos de existência!? Foram muitas as transformações sofridas pelo personagem até os dias de hoje – desde o estilo camp do seriado e de muitas de suas histórias nas décadas de 50 e 60, passando pela profunda reformulação de sua imagem nas décadas de 80 e 90.

Entretanto, foi devido a tais transformações que o herói conseguiu sobreviver todo esse tempo – mesmo que, como tantos, tenha tido que morrer uma vez e ser imobilizado uma ou duas por seus arqui-inimigos. Pensando nisso, imaginei um breve lista daquelas que considero as melhores histórias já escritas do personagem – sem me preocupar com qualquer aprofundamento em torno desta análise: aventuras que fundamentaram, reformularam ou mesmo expandiram ou homenagearam o personagem.

Enfim, é mais uma lista e ponto. Aproveitem…

10. Batman: Morte em Família

Batman: Morte em FamíliaUm belo dia Jason Todd, o Robin da vez, terminou por encher o saco do pessoal da DC Comics e, bem, estes decretaram que ele deveria partir desta para melhor. Porém, escrita por Jim Starlin e ilustrada por Jim Aparo, pode ser considerada como uma das melhores sagas já escritas para o morcegão – mesmo que à toque de caixa, claro.

Depois de uma discussão, Jason Todd decide partir em busca de sua mãe – até então desaparecida. A questão é que “no meio do caminho tinha um Coringa; tinha um Coringa no meio do caminhoa”: Todd é capturado, brutalizado e, por fim, morto em uma explosão – para desespero do Batman, que o encontra já morto e o carrega nos braços em uma das mais icônicas páginas das Histórias em Quadrinhos.

Na boa, Morte em Família é um clássico absoluto, mesmo que as motivações por trás do arco não sejam as melhores…

9. Planetary/Batman: Noite na Terra

Planetary/Batman: Noite na Terra

Uma das minhas favoritas desde sempre, Planetary/Batman: Noite na Terra é, sobretudo, uma bela homenagem à mitologia do morcegão. Quando a equipe do Planetary viaja até a cidade de Gotham City para localizar um homem chamado John Black – enolvido em uma série de estranhas mortes.

Chegando à cidade e recepcionados pelos investigadores responsáveis pelo caso, Elijah Snow, Jakita Wagner e o Baterista logo ficam cara-a-cara com Black. Porém percebem que as mortes provocas por Black resultam de um distúrbio no tecido do espaço-tempo.

Como descobrem isso? Dão de cara com o Batman em pessoa – mas não apenas um, mas várias versões do personagem. O grande barato em Planetary/Batman: Noite na Terra é o jogo que Warren Ellis e John Cassaday fazem com a mitologia do Batman através dos tempos. Além disso, a história concebida por Ellis é um clássico imediato tanto para a mitologia do Batman quanto para o próprio Planetary.

8. Batman: O Messias

Batman: O Messias

Acorrentado, dopado e fragilizado. Este é o Batman que emerge das primeiras páginas de Batman: O Messias. Escrita por Jim Starlin e ilustrada por Bernie Wrightson, a história é impressionante: acordado de um pesadelo, jogado nos esgotos de Gotham City, Batman descobre-se derrotado pelo Diácono Joseph Blackfire que vem arregimentando uma horda de mendigos, sem-teto e outros párias para “limpar” as ruas da cidade.

Batman: O Messias de certa maneira expande a transformação promovida por Frank Miller em Batman: O Cavaleiro das Trevas, uma vez que apresenta um personagem humano e distante do infalível e destemido detetive enbuçado. O roteiro de Starlin é afiado e os desenhos de Bernie Wrightson transformam esta aventura em algo indispensável.

7. Batman: O Longo Dia das Bruxas

Batman: O Longo Dia das Bruxas

Esqueça todo o blá-blá-blá sobre o tal assassina Feriado: o que importa em Batman: O Longo Dia das Bruxas é Harvey Dent. Da primeira à última frase deste arco, o que vemos é a ascensão de um dos principais vilões do Batman. Não por acaso, os assassinatos que atravessam a história contada por Jeph Loeb e Tim Sale – por este último embalada em uma atmosfera noir impressionante – são pequenos lembretes que se reunirão no climax que as páginas finais da série reservam.

Também não foi pro acaso que vemos muito da série em The Dark Knight do diretor Christopher Nolan: de longe, o melhor filme já feito sobre o Batman. A série é um deleite visual e narrativo e, por isso, merece o seu lugar em nossa lista.

6. Batman: O Filho do Demônio

Batman: O Filho do Demônio

Sabe aquela história que você sabe que provavelmente renderá um porrilhão de histórias igualmente bacanas? Pois bem, se na última década você acompanhou o trabalho que Grant Morrison desenvolveu com o Batman, você certamente deveria dar uma olhada no que Mike W. Barr e Jerry Bingham fizeram com Batman: O Filho do Demônio.

Na história, Batman une forças com Ra’s Al Ghul contra uma organização terrorista comandada por um ex-aliado de Al Ghul: Qayin. Barr ao longo da revista, além do conflito entre a Liga dos Assassinos com Qayin, explora a paixão que Talia Al Ghul nutre pelo Batman e ela revela que está esperando um filho dele. Tudo degringola, Qayin ataca o QG da Liga, Talia é ferida, o Batman derrota o vilão e se despede da filha de Ra’s.

O resultado é conhecido: alguns anos depois Grant Morrison solta Damian, o Filho do Batman, para o mundo. A verdade é que Batman: O Filho do Demônio é daquelas revistas que mudam cronologias e, por isso, é uma das dez mais…

5. Batman: Xamã

Batman: Xamã

Esta é mais um dos arcos que acompanharam a reformulação pós-Cavaleiro das Trevas e pós-Crise nas Infinitas Terras: Batman: Xamã é mais um capítulo que conta a história da ascensão do personagem e se coloca imediatamente após Batman: Ano Um.

Xamã mostra um Batman ainda aprendendo com seus erros e um deles foi a tentativa de capturar o assassino Thomas Woodley. Acompanhado por um caçador de recompensas, Bruce Wayne segue Wooodley às montanhas mas é atacado por este: Woodley despenca para a morte e o futuro Batman fica perdido no frio das montanhas.

Resgatado por um grupo de índios, Wayne é curado pelo xamã da tribo. De volta a Gotham e já atuando como o Batman, o detetive se vê às voltas com um grupo de adoradores de uma seita. Batman descobre que a seita tem vínculo com a tribo que o acolhera quando de seu resgate nas montanhas.

Provavelmente o que mais chama a atenção em Batman: Xamã é a apresentação de um Batman reticente, inseguro. Escrita por Dennis O’Neil e ilustrada por Ed Hannigan, Xamã é de longe uma das melhores histórias já contadas sobre o personagem e, mais, sobre sua evolução.

4. Batman: Asilo Arkham

Batman: Asilo Arkham

E eis que Grant Morrison e Dave McKean aprontam um dos clássicos absolutos do herói. O Asilo Arkham é tomado por seus “moradores” e o Batman é convocado para lidar com a situação: ameaçando matar uma garotinha, o Coringa obriga o Batman a entrar no asilo e participar de disputa por sua sobrevivência contra seus maiores vilões.

O texto de Grant Morrison mira em uma vertente: até que ponto o Batman pode resistir ao ter sua sanidade desafiada até o ponto de “quebrar”? Como o Coringa interroga, ele não deveria estar junto aos demais internos do Arkham? Além disso, somos apresentados ao que se esconde nas paredes do próprio asilo – uma séria casa em um sério mundo, como diz o subtítulo da graphic novel – e à história de Amadeus Arkham e sobre como o morcego paira sobre o asilo desde suas fundações.

Em Batman: Asilo Arkham, Morrison não só expande os limites da mitologia do personagem mas, contando com a arte igualmente insana de McKean, nos lembra que, antes de mais nada, o Batman possui demônios que o qalificariam para uma boa estada junto com os demais insanos do Arkham. Entretanto, em um séria casa, alguém precisa manter as chaves sob controle…

3. Batman: Ano Um

Batman: Ano Um

Um ano depois de causar o maior alvoroço em torno do personagem com o seu O Cavaleiro das Trevas, Frank Miller e David Mazzucchelli resolveram sacudir novamente o universo do personagem recontando sua origem. Batman: Ano Um veio na esteira de reformulações de uma DC Comics pós-Crise Nas Infinitas Terras e do esforço por recontar as origens de seus principais personagens.

Diferente do Batman de O Cavaleiro das Trevas, Miller e Mazzucchelli mostram um personagem frágil, inseguro, mas determinado a combater o crime pelas ruas de Gotham – mesmo que para isso tenha que pagar um preço – no início de sua trajetória até meter sua bota nos queixos do Superman…

A dupla Miller-Mazzucchelli vinha de um outro sucesso astrondoso com o Demolidor no arco A Queda de Murdock para a Marvel Comics. Batman: Ano Um se propunha não apenas a apresentar o personagem e sua origens, mas em explicitar seus elementos fundamentais e como aqueles primeiros anos atravessariam sua jornada de combate ao crime.

Não é por acaso que Batman: Ano Um está na gênese de Batman Begins, de Christopher Nolan – tanto que uma das cenas da HQ (o resgate do filho do Comissário Gordon) é literalmente reproduzida nas telas. Batman: Ano Um é, sem dúvida, um dos clássicos indispensáveis do personagem.

2. Batman: O Cavaleiro das Trevas

Batman: O Cavaleiro das Trevas

E foi em fevereiro de 1986 que Frank Miller decidiu lançar um sopro de renovação no velho morcegão e chacoalar o pequeno mundinho do personagem de cima a baixo. Batman: O Cavaleiro das Trevas foi o grande responsável por estabelecer as características do personagem às portas do novo século.

Miller lançou as bases para que muitos autores expandissem a mitologia do Batman e pistas para que sujeitos como Alan Moore e Grant Morrison lançassem toda a sorte de possibilidades narrativas, focando nas fragilidades, valores e medos do personagem.

A Gotham City de Batman: O Cavaleiro das Trevas é parte de um mundo em permanente de tensão, já que na realidade da série, a Guerra Fria não acabou e o ainda presidente Ronald Reagan crê que combater os soviéticos é o que realmente importa – e o Superman é tão somente um mero instrumento contra isso.

Em Batman: O Cavaleiro das Trevas temos um Bruce Wayne que pendurou a capa do Batman e segue vivendo sua vida em uma Gotham City ainda mais distópica do que nos acostumamos a ver. Entretanto, um dia, depois de uma visita ao Beco do Crime, Wayne passa a ser atormentado pela visão de seus pais assassinados e é provocado a reassumir o papel de Batman e combater uma cidade completamente tomada pelo crime e por gangues.

O morcegão decide retornar à ativa no mesmo instante em que Harvey Dent, o Duas-Caras – agora recuperado da mutilação que fez com que perdesse a sanidade -, tenta explodir parte de Gotham com uma bomba. A partir deste primeiro episódio, vemos a ascensão de um outro Batman – que não se importa em partir a coluna de um lider de gangues diante de uma platéia, quebrar o pescoço do Coringa ou mesmo de meter uma botinada nas fuças do Superman.

Na verdade, Batman: O Cavaleiro das Trevas poderia ter sido o nosso primeiro lugar, seja pelo impacto causado ao personagem e às Histórias em Quadrinhos. Mas, só porque o Frank Miller ousou pensar em um Batman: O Cavaleiro das Trevas 2, não levará o caneco por aqui…

1. Batman: A Piada Mortal

Batman: A Piada Mortal

Esta, a meu ver, é a história definitiva de Batman. Não apenas por apresentar a gênese de seu principal vilão, nem por mostrar como os dois se completam e reajem, mas, sobretudo, por apresentar um carrossel de eventos que culminam em uma interrogação; em algo aberto.

Em linhas gerais, Batman: A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland, é uma história do Coringa e de como ele e o Batman batalham sobre uma linha tênue. Não é por acaso que a HQ começa e termina com o mesmo quadro e, no vigésimo quinto quadro, o Batman entrega o que inevitavelmente acontecerá em algum momento entre os dois.

Nunca entendi por que nosso relacionamento é tão mortal, mas não quero ter a sua morte nas minhas mãos – afirma o Batman logo nas primeiras páginas para alguém que se passa pelo Coringa no Asilo Arkham.

Batman: A Piada Mortal é uma aventura sobre vida e morte e sobre o que estas duas condições provocam em dois personagens em uma escalada antagônica. Uma das minhas cenas favoritas é o Carrossel do Comissários Gordon: um passeio único preparado pelo Coringa para quebrar um de seus mais conhecidos algozes enquanto espera o Batman para o resgate.

O que vemos, portanto, em Batman: A Piada Mortal é um carrossel de eventos que nos leva, no fim, a uma das mais impressionantes discussões que já tomaram as Histórias em Quadrinhos, quando Grant Morrison sugere que Alan Moore faz com que o Coringa seja morto pelo Batman e que a tal Piada Mortal do título é este arranjo final.

Enfim, Batman: A Piada Mortal é um clássico, uma história poderosa do início ao fim e, sem medo de errar, a minha favorita de todos os tempos.

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