Artigos, Música

A Fortaleza “réia” que, transformada e transtornada, confronta a memória…

Créditos: Divulgação/Haroldo Saboia

É possível perceber o  flerte sinfônico-progressivo que o Cidadão Instigado imprime nas faixas de Fortaleza, novo trabalho dos caras e, de longe, um dos melhores discos de rock’n’roll já gravados – e uma das obras mais pessoais que a música brasileira poderia produzir.

Talvez Fernando Catatau, Regis Damasceno, Dustan Gallas, Rian Batista e Clayton Martin não assumam isso, mas Fortaleza é pessoal pra caralho: parece a reflexão de alguém que, ao trilhar seu próprio caminho, apegado à memória e à aposta feita em um futuro incerto, conclui que tudo valera a pena.

Capa de Fortaleza, novo trabalho da banda Cidadão Instigado

Capa de Fortaleza, novo trabalho da banda Cidadão Instigado

De “Até Que Enfim” até “Lá Lá, Lá Lá, Lá Lá” o que temos é um desfile memorialista – pessoal e musicalmente falando. Não, não é por acaso que uma canção como “Perto de Mim” nos remeta a uma “Welcome To The Machine“: é parte da conversa, do diálogo, da memória que a banda constrói…

Também não é por acaso que a faixa-título beba em diferentes vertentes e passei do repente ao progressivo para contar como as memórias de uma cidade esvanecem, se transformam e, como consequência, nos levam a interrogar o que diabos acontecera com o lugar ao qual pertenciamos: como aquela “réia” cidade fora perdida e, ora transtornada/transformada, nos obriga a vê-la como uma estranha…

Fortaleza pode se encarado como um relato elaborado daqueles reunidos em torno não apenas de uma banda – neste caso, a Cidadão Instigado -, mas das diferentes experiências que se desenvolveram a partir dela. Os que, cansados de esquivar-se, decidem seguir; aqueles que, inquietos, vêem na imprevisibilidade da estrada uma alternativa; os que recordam seus dias no lugar onde viveram e, desiludidos, percebem que tal lugar não existe mais.

São diferentes às acepções para a palavra Fortaleza; também são as influências que alimentam o mosaico concebido por Catatau para iluminar sua Fortaleza: nos ecos de um Raul Seixas em “Quando a Máscara Cai“; no flerte com o progressivo que conecta “Perto de Mim” e “Besouros e Borboletas“; e no rock’n’roll em plena graça de “Dudu vivi dada” (mesmo remetendo à estética musical de comerciais de cigarros do final dos anos 1980), temos um álbum indispensável não apenas para compreendermos uma das mais incríveis bandas paridas por este país…

Um disco que é uma Fortaleza, mas, esta, escancarada para os que quiserem ver seus diferentes e promissores corredores, é uma reserva de surpresas.

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Artigos, Música

Uma obra-prima agora à distância…

Não sei, mas tenho uma queda por discos com o astral lá embaixo. Uma rápida olhadela nos meus, basta para se dar conta que muitos deles não são lá muito solares. Por isso não estranhe quando procuro falar das virtudes de No More Shall We Part, do Nick Cave & The Bad Seeds: namoro com este disco há alguns anos e, bem, já disponho de alguns outros discos do sujeito para dizer que este é especial…

No More Shall We Part é daqueles discos que você certamente não escutaria em um churrasco ou, quem sabe, não levaria para aquela festa com teus amigos. Não, nunca: este é um disco de fossa; de todas as fossas possíveis; de todos os nomes possíveis para definir o que diabos chega a ser uma fossa.

Da faixa-título até seu encerramento, o que temos em No More Shall We Part é tão somente um desfile sombrio de canções soturnas, inquietas e o desejo que estas parecem expressar por nos ver como coadjuvantes de algumas daquelas pequenas e desconfortáveis histórias concebidas por Cave e sua trupe.

Capa de “No More Shall We Part”, de Nick Cave And The Bad Seeds

Desconfortáveis como, por exemplo, As I Sat Sadly By Her Side onde aparentemente mãe e filho se reconectam e observam como a vida passeia diante de seus olhos; como todas as coisas se dobram frente ao tempo e a inevitabilidade deste. A mesma inevitabilidade que move um sujeito que decide deixar o leito que habita e experimentar o mundo mais uma vez, como narra uma canção igualmente poderosa como Hallelujah.

No More Shall We Part coleciona momentos que se equilibram entre o belo desesperador e o angustiante sublime. Com relação ao primeiro, fico com uma das minhas canções favoritas já compostas por Nick Cave: Fifteen Feet of Pure White Snow. A sensação que temos ao escutá-la é a de que estamos afundando e, ainda assim, mesmo percebendo o cadafalso, nos consideramos satisfeitos pela beleza envolvente de tal condição – mesmo quando temos a catarse metafórica da “pura e branca neve” que nos preenche na coda final da canção e nos abraça como que para um último e inevitável mergulho.

Porém, este último esforço parece reservado para God Is In The House. A ironia transborda por todos os lados através desta canção dona de uma acidez sublime: a vida moderna, seus temores, suas angustias, todas elas depositadas e repousando no colo de um Deus pronto para distribuir suas benesses para todos e todas as direções: “não há dúvidas: Deus está em casa” mesmo que não tenha deixado-a ainda, os seus habitantes estão abandonados à própria sorte e às agruras da existência.

E é assim, equilibrando-se em uma faixa em linha reta rumo ao cadafalso, rumo à queda inevitável que No More Shall We Part nos conduz. É estranho escrever sobre um disco de 2001 em pleno Ano da Graça de 2015, mas, bem, como disse, tenho uma queda por discos sombrios e, talvez, não queira deixá-los para trás – especialmente os clássicos.

No More Shall We Part é um clássico da desesperança, da tristeza e de como, ainda assim, há uma estranha beleza nos versos de Nick Cave e na música levada a cabo pelos Bad Seeds. Um clássico especialmente porque, mesmo em toda sua inevitável amargura, nos oferece uma certa iluminação. Talvez por isso tenha decidido não me afastar mais desta inevitável necessidade de escrever sobre esta bela obra-prima até agora distante…

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Música

Um luto estranho e interessante…

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Mourn é o álbum homônimo de uma molecada da Catalunha que parece ter preenchido seus travesseiros com pregos, vidro e algumas discos de PJ Harvey, Belly e Pixies. O quarteto nascido em El Maresme, uma das várias províncias de Barcelona, parece ter saído de algum momento bem peculiar da década de 1990: fazem uma música densa, soturna e cativante que nos remete diretamente à cena londrina ou ao pós-Grunge circa 1996.

As influências assumidas por Jazz Rodríguez Bueno (Guitarra), Carla Pérez Vas (Guitarra, Vocais), Leia Rodríguez (Baixo) e Antonio Postius (Bateria) começam e terminam na década de nascimento da banda: PJ Harvey, Sebadoh, Sleater-Kinney são algumas das inspirações assumidas pela banda em seu disco de estréia.

Por sua vez, um aspecto chama também a atenção para a banda: a idade média de seus integrantes. Enquanto Jazz, Carla e Antonio beiram os vinte anos de idade, Leia Rodriguez mal tinha completado 15 anos de idade quando lançaram seu primeiro disco.

Com datas agendadas para diferentes cidades espanholas, Inglaterra e EUA, os moleques do Mourn já celebram uma conquista de gente grande: participarão como uma das atrações do festival Primavera Sound 2015. Não é para qualquer um, mas, pelo que demonstram em seu trabalho de estréia, a moçada do Mourn está no caminho certo…

Confere aí!

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Crítica, Música

O Fantasma do Sampaio pairando sobre a cabeça de Tatá

Há algum tempo percebo o fantasma de Sérgio Sampaio pairando sobre a cabeça de Tatá Aeroplano – seja em seu homônimo primeiro trabalho quanto nesta nova investida, o recente Na Loucura & Na Lucidez. Entendam-me, não que veja nisto um problema, mas justo o seu contrário: desde Pareço Moderno, do Cérebro Eletrônico – uma das diferentes casas de Tatá, juntamente com o Jumbo Elektro -, até este segundo álbum solo, o moço dá a impressão de ter derrubado em todas as garrafas possíveis e se abraçado aos livros para chegar a tal peculiar estado de graça musical.

Um estado, diga-se, no qual se digladiam as angústias individuais, os dissabores das coisas ao nosso redor e aquela urgência libertadora em jogar tudo pro alto. A combinação destes se transforma em lamentos únicos – algo da substância que envolve este Na Loucura & Na Lucidez.

Confesso ter chegado bem atrasado, é verdade, ao conferir a investida-solo do moço – o homônimo, Tatá Aeroplano, só conferi há alguns dias. Entretanto, mesmo sendo um dos últimos da fila, preciso dizer que Tatá já se notabiliza como dono de alguns dos trabalhos mais felizes da nova safra da música brasileira.

Isso porquê não contém o ranço insuportável que paira sobre alguns dos que articulam a tal MPB recente, mas propõe uma expansão, um “quê” que pretende lançar nossa música para frente – mesmo, como percebo, olhando no retrovisor aqueles que ofereceram o seu melhor e pagaram o preço por isso. Por isso, Sérgio Sampaio. Quando disse que o fantasma do sujeito paira sobre Tatá é por reconhecer que ele o atravessa por sua acidez, irreverência e urgência.

Este último adjetivo, me parece, dá o tom deste novo disco de Aeroplano: há uma urgência nas composições, no cantar, no sentido das músicas e como elas nos afetam – uma prova, Na Lucidez abrindo o disco. Este me parece o grande valor desta sua segunda investida-solo e é com ele que o sujeito afirma seu lugar como um dos grandes compositores de sua geração.

Penso, por exemplo, na irônica Amiga do Casal de Amigos que dialoga com a superficialidade, a solidão, a individualidade. Há uma estado de ironia que atravessa o disco e que se faz sintetizada na faixa – a do sujeito entregue à ironia da própria sorte em uma noite, mas percebe que esta noite foi igualmente irônica.

Onde Somos Um, nova parceria com a cantora Bárbara Eugênia – ela colaborara com Aeroplano no primeiro disco-solo -, também é uma das canções que saltam aos olhos neste disco. Estranho, mas este segundo salto-solo de Tatá possui uma sonoridade que continua a conversar com algo do álbum de estréia de Bárbara: muito disso, creio, se sintetiza na produção a cargo de Dustan Gallas e Júnior Boca (que também produziram o primeiro disco de Tatá).

Outra constatação que salta aos ouvidos neste novo disco é a continuidade do aparente diálogo com a noite – mas não qualquer uma, senão a boêmia paulista – como parece sugerir o próprio Tatá.

Este retrato ganha contornos nítidos no fecho deste novo trabalho: Na Lucidez. Na minha opinião, uma das melhores canções do disco e que, de longe, o fecha em um arremate impressionante este que é desde já um daqueles álbuns que devem figurar em qualquer lista de melhores do ano que se preze.

E, finalizando: lembram do fantasma de Sérgio Sampaio sugerido alguns parágrafos acima. Dizem que ele foi visto perambulando pela Augusta seguindo Tatá Aeroplano. Os mais atentos viram um sorriso no rosto da tal entidade, como se satisfeito estivesse com o rapaz e seu grande disco…

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Cinema, Crítica

Praia do Futuro: o pensamento e o mergulho…

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A questão de Donato é o mergulho: é nele que o personagem de Wagner Moura em Praia do Futuro, novo longa do diretor Karim Aïnouz (Madame SatãO Céu de Sueli), se percebe vivo e parte de algo. Donato é um bombeiro salva-vidas que atua na praia que empresta seu nome ao longa. Um bombeiro que, sob as águas, percebe-se por alguns instantes vivo. Em um destes instantes ele não consegue salvar um turista alemão de seu inevitável afogamento nas águas traiçoeiras da Praia do Futuro.

Nisso Donato conhece Konrad (Clemens Schick), um ex-soldado e motociclista alemão que passava suas férias com um amigo quando este é levado pelo mar. Donato se aproxima de Konrad, se envolve nele e, como resultado, se permite o mergulho definitivo quando parte para Berlim abandonando o pouco que existia naquela praia onde o escapismo estava nas águas.

Praia do FuturoPraia do Futuro é um filme belo e que nos interroga essencialmente sobre o que significa estar vivo: sobre esta sensação que é a de não pertencer e não se reconhecer em um lugar que deveria ser nosso lugar. Donato era um peixe fora d’água que não conseguia se reconhecer sequer quando junto com peixes de seu ofício – e isso fica claro na coreografia que os salva-vidas protagonizam em determinado momento do longa, quando o protagonista contempla, desolado, o mergulho destes e a aparente falta de sentido daquele ato.

O sentimento de desolação de Donato se transforma quando, em Berlim, descobre-se aceito, reconhecido, liberto: o personagem pode, ali, sentir-se e aceitar-se. Este me parece o principal quando Aïnouz nos brinda com um personagem homossexual que precisa deixar seu teórico “lugar” para finalmente perceber-se vivo. Em uma das cenas de Praia do Futuro, o encontro entre Donato e seu irmão Ayrton (Jesuita Barbosa), temos a dimensão desta idéia no silêncio tocante do primeiro quando interrogado por ter abandonado Ayrton e toda sua família.

imageA cena é uma das mais vigorosas interpretações já vistas de Wagner Moura e das mais tocantes que o cinema produziu, sem palavras, melodrama: só olhares, sentimentos e, de certa maneira, um pedido de perdão pela necessária distância. A beleza de Praia do Futuro é sublime em muitos dos sentidos captados por Aïnouz, mas, em um em particular, está o sublime inerente ao mergulho, à libertação através dele e a urgência por experimentar a imensidão e todas as suas incertezas.

Donato experimenta esta imensidão e, como a canção de Bowie que encerra com os créditos o filme de Aïnouz, tal experimento vale a pena nem que seja por um dia em nossas vidas.

Trailer

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Crítica, Séries

E eis que decidiram tirar o Flash do limbo…

O trailer abaixo é mais uma série do canal a cabo norte-americano CW. Ninguém menos do que o Flash será a estrela desta nova franquia que, se seguir os passos de Arrow, periga agradar os fãs.

O personagem já teve outra série na década de 90, mas, especialmente devido ao apuro tecnológico recente, a nova investida do personagem parece interessante. A série deve estrear no próximo semestre e não mudará seu mundo nem oferecerá nem um desafio narrativo mais complexo, mas, ainda assim, creio que vale a pena conferir.

Como disse o amigo Alex de Souza, se seguir os passos de Arrow estará de bom tamanho…

Confere aí:

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Sabe, todo o fã de HQs gostaria do fundo de seu coração que os cineastas de um modo geral não metessem o bedelho em uma narrativa que, na maioria das vezes, eles não parecem compreender. Seja a construção, a forma ou, no final, o resultado geral, geralmente a transposição de uma forma narrativa para outro meio termina em algo, digamos, distante da forma original e algo completamente novo quando transposta.

Vejamos um exemplo recente, para deixarmos bem claro. O filme X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, do diretor norte-americano Bryan Singer, sequer estreou, mas já divide opiniões entre os fãs dos personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby. O motivo é bastante simples: a história das telas foi completamente modificada em relação ao seu original nas HQs. Não é qualquer arranjo, mas algo bastante significativo: como se a versão das telas derivasse de algum universo paralelo da Marvel…

São muitos os exemplos de longas que, baseados em HQs, terminaram como fiasco frente ao seu fandom original. Existem, claro, outros que surpreenderam – como as franquias Hellboy ou Sin City. Entretanto, geralmente tais tentativas terminam parindo interpretações de narrativas que mais parecem licenças poéticas para histórias consolidadas mas que desagradam a “perspectiva” daqueles que desejam vertê-las para outros suportes.

AkiraPoster1Parece papo de teórico, mas é bem por aí. A questão toda me veio à mente ao ver um trailer fan-made de Akira que ganhou a rede esta semana. Faz muito que se fala sobre um live-action com os personagens criados por Katsuhiro Otomo, porém nada de concreto se viu até agora. O problema é que o que se viu veio dos fãs de Otomo e não dos estúdios que pretendiam levar Akira às telas.

O trailer feito por fãs demonstra como funciona a lógica contemporânea por trás dos meios de comunicação e de como as formas narrativas podem ser construídas não só por criadores, mas também por recriadores. Quando alguns fãs mais abnegados e donos de saberes específicos se propõem a contar/recontar uma história, não há nada a se fazer senão apreciar o resultado. No caso do trailer criado pelo Akira Project, a dimensão é ainda maior.

Criado em 2012, um grupo de fãs decidiu realizar uma versão live-action do longa de animação Akira de 1988. A iniciativa louvável, antes que algum estúdio decidisse destroçar o longa original, foi organizada e contou com uma campanha de crowd funding que arrecadou pouco mais de US$ 3 mil para o projeto, mas que arrebanhou colaboradores para dar continuidade à idéia. O trailer que você viu acima levou um ano e meio para ser concluído, mas reflete bem a tendência de um segmento mais e mais ligado à lógica dos fãs: se a indústria não é capaz de ofertar algo que reflita as expectativas do fandom quanto a determinada expressão objeto de culto, este mesmo fandom criará sua própria versão deste algo cultuado.

A iniciativa Akira Project demonstrou na última semana que em uma atmosfera de apropriação dos meios de produção por aficcionados pode se traduzir em alternativas às formas produtivo-culturais consolidadas. No fim, que belo trailer resultou deste esforço midiático-colaborativo promovido por estes fãs.

Katsuhiro Otomo deve estar orgulhoso com o resultado da investida e os estúdios hollywoodianos devem estar correndo atrás dessa rapaziada pra saber a receita deles…

Artigos, Música

O mal-estar nada aparente em Everyday Robots de Damon Albarn

Damon Albarn

Damon Albarn é um gênio da música. O foi quando esteve no Blur, se tornando onipresente através da década de 1990, e o fora também nos anos 2000 com seu Gorillaz. Sim, Albarn é gênio. Entretanto, ainda que em sua condição de bardo, isto não significa dizer que seja infalível. Esta tal falibilidade é posta à prova com sua recente investida solo, o disco Everyday Robots.

Digamos assim, sem muitos rodeios: o disco é de um mau humor monumental. Não que tal idéia seja algo ruim. Ao longo da última década tivemos toda uma produção do Radiohead, hipsters e outros sujeitos do gênero mostrando o lado soporífero da Força, mas, especialmente quando escutamos o disco de Albarn e o lamento que o atravessa, é inevitável dizer:

– Moço, menos ardor com as chibatadas, tá!?

Everyday Robots é um disco chato. Não é apenas mau humorado ou “mala” – como, por exemplo, o álbum Portishead de 1997 que, de longe, é o meu favorito quando o motivo são os dissabores do mundo -, é simplesmente chato. Dispensável, pra falar a verdade: mais parece uma sessão perdida de alguém com os cotovelos inchados parida de uma audição do The Fall do Gorillaz.

Everyday RobotsDou um desconto por ser a primeira investida “solo” de Damon Albarn – mesmo que as aspas se mostrem necessárias para afirmar isso, afinal, o sujeito atravessou a última década com mais projetos do que minhas mãos podem contar. Mas é só um desconto breve porque, do apanhado de músicas destes Everyday Robots, creio que pouco se salva – sem contar que mais parece uma sessão perdida do projeto Kinshasa One Two.

Dentre aquelas que se sobressaem, entre seus mortos e feridos, está a faixa-título. Everyday Robots, a música, estabelece uma certa conversa com um outro projeto anterior de Albarn: o álbum de Bobby Womack, The Bravest Man in The Universe. É estranho, mas a chave de resposta para que possamos compreender o quanto este Everyday Robots, o álbum, é irregular está justamente na profusão de idéias que atravessa a trajetória de Albarn.

Se nas duas últimas décadas ele se fez onipresente – seja colaborando com outros ou criando projetos buscando a expansão de sua verve criativa -, esta tal não se mostra em seu disco-solo. Hostiles parece ter saído de algum momento do The Good, The Bad & The QueenLonely Press Play, de suas experimentações hipertecnológicias para o The FallMr. Tembo, de algum momento do Plastic Beach

No fim, como disse no início, mesmo gênio, Albarn peca neste Everyday Robots por apresentar uma espécie de apanhado de sua última década, mas envolvida pelo signo da irregularidade. No fim, um disco chato: por isso, prefiro esperar a segunda vinda de Damon Albarn…

 

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Crítica, Games

Bioshock Infinite ou “O Que Está no Alto é Como o Que Está Embaixo”

Bioshock Infinite

Talvez cometa algum pecado por isso, mas acredito que Bioshock é a franquia de jogos definitiva: a melhor de seu gênero e a mais criativa narrativa já concebida para o universo dos games. Acabo de concluir o terceira aventura da franquia, Bioshock Infinite, e não consigo encontrar adjetivos o suficiente para dar conta da sensação que o jogo me causou.

– Ô, véi: é só mais um FPS – dirão. Porém, desde o primeiro Bioshock e seu enredo distópico e calcado em um estética mesclando steampunk  – com a atmosfera retrô cinquentista e um ar noir sempre à espreita – me senti envolvido não apenas pela jogabilidade, mas pela narrativa que os estúdios 2K desenvolveram – naquele primeiro momento, para a cidade submarina de Rapture seus “autômatos”, suas crianças bizarras e insanos idem.

A questão é que, depois de uma segunda aventura em Rapture, a 2K resolveu inovar e expandir um pouco mais a narrativa. Daí que fomos brindados com Bioshock Infinite, terceira aventura da franquia e, com ela, descobrimos a cidade nas nuvens de Columbia e seus moradores que decidiram se afastar dos mundanos e seguir o messiânico Zachary Comstock rumo aos céus.

Uma coisa precisa ser dita: o trabalho de arte e recriação da estética dos anos 20 produzida pelo estúdio para Bioshock Infinite impressiona: uma cidade inteira nas alturas regida pela perspectiva tecnológica da revolução indústrial e suas grandiosas máquinas à vapor. Além disso, a trama é de uma complexidade narrativa inebriante.

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Encarnando o detetive particular Booker DeWitt, o jogador é apresentado à grandiosidade de Columbia e seus devotados moradores. DeWitt está à procura de jovem Elizabeth – também conhecida como “a Ovelha de Columbia”: uma misteriosa garota que foi sequestrada pelo reverendo Zachary Comstock e aprisionada no alto de uma torre protegida pelo monstro Songbird.

Agora, imagine uma cidade de fiéis fundamentalistas que de uma hora para a outra descobrem que você é a encarnação do mal. Pois bem, este é o mote dos primeiros momentos de Bioshock Infinite: DeWitt é perseguido e atacado por moradores que o têm como a verdadeira ameaça divina enviada para destruir o sonho criado pelo por Comstock. A partir daí, somos apresentados aos conflitos que movimentam Columbia e sua verve sulista – especialmente a luta de Comstock contra os revolucionários da Vox Populi (um grupo que luta contra a segregação e degradação que atinge às camadas menos favorecidas da “cidade dos céus”).

Bioshock Infinite tem um roteiro repleto de mudanças, de transformações e transições vertiginosas. Alías, a vertigem é parte da jogabilidade deste game e este é um dos seus grandes achados. Toda a ação de Bioshock Infinite acontece em uma cidade construída nos céus e conectada por linhas de metal semelhantes àquelas utilizadas em carrosséis. O jogador, logo nos primeiros instantes de Bioshock Infinite é presenteado com um dispositivo que, além de servir para nocautear ou decapitar seus oponentes, permite que ele deslize por tais linhas e imprima no jogador uma sensação de vertigem constante.

Além de seus ganchos, DeWitt conta com as armas que coleta ao longo de seu caminho ao resgate de Elisabeth, os estranhos vigores – garrafas que ele coleta pelo caminho e que concedem àquele que as bebe poderes e a possibilidade de criar armadilhas fatais para seus inimigos – e os equipamentos que podem ser combinados para garantir maior eficiência contra os ataques dos muitos inimigos que surgem por toda Columbia.

A criação deste mundo imaginário é algo a parte no jogo: é evidente o esforço dos desenvolvedores da 2K, especialmente quando analisamos este Bioshock Infinite, para a criação de uma experiência de sonho, combinando diferentes elementos de ficção científica em uma narrativa/atmosfera cativante em vários aspectos. Tomemos por exemplo a sequência final do jogo: a aventura termina em um verdadeiro emaranhado metafísico onde presente, passado e futuro dialogam em suas infinitas possibilidades – e todo estes emaranhado ficcional nos leva ao cerne da história.

Bioshock InfiniteA questão não estava na busca por alguém ou algo, mas nas revelações imbutidas em tal busca. Bioshock Infinite, como o próprio nome sugere, se transforma em algo além, interligando todas as aventuras anteriores da franquia em uma espiral complexa de eventos. Este me parece o principal mérito do jogo: estimular no jogador não apenas o apego à narrativa apresentada, mas como esta se relaciona com as demais histórias que compõem tal universo ficcional.

Bioshock Infinite transformou verdadeiramente sua franquia quando deciciu expandí-la ao infinito. Palmas para seus desenvolvedores por apresentar uma aventura de primeiríssima linha e, porque não, indispensável.

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Esquadrinhando

As 10 Melhores Histórias do Batman

E não é que o Batman, aquele detetive sombrio criado por Bob Kane e Bill Finger, chegou aos 75 anos de existência!? Foram muitas as transformações sofridas pelo personagem até os dias de hoje – desde o estilo camp do seriado e de muitas de suas histórias nas décadas de 50 e 60, passando pela profunda reformulação de sua imagem nas décadas de 80 e 90.

Entretanto, foi devido a tais transformações que o herói conseguiu sobreviver todo esse tempo – mesmo que, como tantos, tenha tido que morrer uma vez e ser imobilizado uma ou duas por seus arqui-inimigos. Pensando nisso, imaginei um breve lista daquelas que considero as melhores histórias já escritas do personagem – sem me preocupar com qualquer aprofundamento em torno desta análise: aventuras que fundamentaram, reformularam ou mesmo expandiram ou homenagearam o personagem.

Enfim, é mais uma lista e ponto. Aproveitem…

10. Batman: Morte em Família

Batman: Morte em FamíliaUm belo dia Jason Todd, o Robin da vez, terminou por encher o saco do pessoal da DC Comics e, bem, estes decretaram que ele deveria partir desta para melhor. Porém, escrita por Jim Starlin e ilustrada por Jim Aparo, pode ser considerada como uma das melhores sagas já escritas para o morcegão – mesmo que à toque de caixa, claro.

Depois de uma discussão, Jason Todd decide partir em busca de sua mãe – até então desaparecida. A questão é que “no meio do caminho tinha um Coringa; tinha um Coringa no meio do caminhoa”: Todd é capturado, brutalizado e, por fim, morto em uma explosão – para desespero do Batman, que o encontra já morto e o carrega nos braços em uma das mais icônicas páginas das Histórias em Quadrinhos.

Na boa, Morte em Família é um clássico absoluto, mesmo que as motivações por trás do arco não sejam as melhores…

9. Planetary/Batman: Noite na Terra

Planetary/Batman: Noite na Terra

Uma das minhas favoritas desde sempre, Planetary/Batman: Noite na Terra é, sobretudo, uma bela homenagem à mitologia do morcegão. Quando a equipe do Planetary viaja até a cidade de Gotham City para localizar um homem chamado John Black – enolvido em uma série de estranhas mortes.

Chegando à cidade e recepcionados pelos investigadores responsáveis pelo caso, Elijah Snow, Jakita Wagner e o Baterista logo ficam cara-a-cara com Black. Porém percebem que as mortes provocas por Black resultam de um distúrbio no tecido do espaço-tempo.

Como descobrem isso? Dão de cara com o Batman em pessoa – mas não apenas um, mas várias versões do personagem. O grande barato em Planetary/Batman: Noite na Terra é o jogo que Warren Ellis e John Cassaday fazem com a mitologia do Batman através dos tempos. Além disso, a história concebida por Ellis é um clássico imediato tanto para a mitologia do Batman quanto para o próprio Planetary.

8. Batman: O Messias

Batman: O Messias

Acorrentado, dopado e fragilizado. Este é o Batman que emerge das primeiras páginas de Batman: O Messias. Escrita por Jim Starlin e ilustrada por Bernie Wrightson, a história é impressionante: acordado de um pesadelo, jogado nos esgotos de Gotham City, Batman descobre-se derrotado pelo Diácono Joseph Blackfire que vem arregimentando uma horda de mendigos, sem-teto e outros párias para “limpar” as ruas da cidade.

Batman: O Messias de certa maneira expande a transformação promovida por Frank Miller em Batman: O Cavaleiro das Trevas, uma vez que apresenta um personagem humano e distante do infalível e destemido detetive enbuçado. O roteiro de Starlin é afiado e os desenhos de Bernie Wrightson transformam esta aventura em algo indispensável.

7. Batman: O Longo Dia das Bruxas

Batman: O Longo Dia das Bruxas

Esqueça todo o blá-blá-blá sobre o tal assassina Feriado: o que importa em Batman: O Longo Dia das Bruxas é Harvey Dent. Da primeira à última frase deste arco, o que vemos é a ascensão de um dos principais vilões do Batman. Não por acaso, os assassinatos que atravessam a história contada por Jeph Loeb e Tim Sale – por este último embalada em uma atmosfera noir impressionante – são pequenos lembretes que se reunirão no climax que as páginas finais da série reservam.

Também não foi pro acaso que vemos muito da série em The Dark Knight do diretor Christopher Nolan: de longe, o melhor filme já feito sobre o Batman. A série é um deleite visual e narrativo e, por isso, merece o seu lugar em nossa lista.

6. Batman: O Filho do Demônio

Batman: O Filho do Demônio

Sabe aquela história que você sabe que provavelmente renderá um porrilhão de histórias igualmente bacanas? Pois bem, se na última década você acompanhou o trabalho que Grant Morrison desenvolveu com o Batman, você certamente deveria dar uma olhada no que Mike W. Barr e Jerry Bingham fizeram com Batman: O Filho do Demônio.

Na história, Batman une forças com Ra’s Al Ghul contra uma organização terrorista comandada por um ex-aliado de Al Ghul: Qayin. Barr ao longo da revista, além do conflito entre a Liga dos Assassinos com Qayin, explora a paixão que Talia Al Ghul nutre pelo Batman e ela revela que está esperando um filho dele. Tudo degringola, Qayin ataca o QG da Liga, Talia é ferida, o Batman derrota o vilão e se despede da filha de Ra’s.

O resultado é conhecido: alguns anos depois Grant Morrison solta Damian, o Filho do Batman, para o mundo. A verdade é que Batman: O Filho do Demônio é daquelas revistas que mudam cronologias e, por isso, é uma das dez mais…

5. Batman: Xamã

Batman: Xamã

Esta é mais um dos arcos que acompanharam a reformulação pós-Cavaleiro das Trevas e pós-Crise nas Infinitas Terras: Batman: Xamã é mais um capítulo que conta a história da ascensão do personagem e se coloca imediatamente após Batman: Ano Um.

Xamã mostra um Batman ainda aprendendo com seus erros e um deles foi a tentativa de capturar o assassino Thomas Woodley. Acompanhado por um caçador de recompensas, Bruce Wayne segue Wooodley às montanhas mas é atacado por este: Woodley despenca para a morte e o futuro Batman fica perdido no frio das montanhas.

Resgatado por um grupo de índios, Wayne é curado pelo xamã da tribo. De volta a Gotham e já atuando como o Batman, o detetive se vê às voltas com um grupo de adoradores de uma seita. Batman descobre que a seita tem vínculo com a tribo que o acolhera quando de seu resgate nas montanhas.

Provavelmente o que mais chama a atenção em Batman: Xamã é a apresentação de um Batman reticente, inseguro. Escrita por Dennis O’Neil e ilustrada por Ed Hannigan, Xamã é de longe uma das melhores histórias já contadas sobre o personagem e, mais, sobre sua evolução.

4. Batman: Asilo Arkham

Batman: Asilo Arkham

E eis que Grant Morrison e Dave McKean aprontam um dos clássicos absolutos do herói. O Asilo Arkham é tomado por seus “moradores” e o Batman é convocado para lidar com a situação: ameaçando matar uma garotinha, o Coringa obriga o Batman a entrar no asilo e participar de disputa por sua sobrevivência contra seus maiores vilões.

O texto de Grant Morrison mira em uma vertente: até que ponto o Batman pode resistir ao ter sua sanidade desafiada até o ponto de “quebrar”? Como o Coringa interroga, ele não deveria estar junto aos demais internos do Arkham? Além disso, somos apresentados ao que se esconde nas paredes do próprio asilo – uma séria casa em um sério mundo, como diz o subtítulo da graphic novel – e à história de Amadeus Arkham e sobre como o morcego paira sobre o asilo desde suas fundações.

Em Batman: Asilo Arkham, Morrison não só expande os limites da mitologia do personagem mas, contando com a arte igualmente insana de McKean, nos lembra que, antes de mais nada, o Batman possui demônios que o qalificariam para uma boa estada junto com os demais insanos do Arkham. Entretanto, em um séria casa, alguém precisa manter as chaves sob controle…

3. Batman: Ano Um

Batman: Ano Um

Um ano depois de causar o maior alvoroço em torno do personagem com o seu O Cavaleiro das Trevas, Frank Miller e David Mazzucchelli resolveram sacudir novamente o universo do personagem recontando sua origem. Batman: Ano Um veio na esteira de reformulações de uma DC Comics pós-Crise Nas Infinitas Terras e do esforço por recontar as origens de seus principais personagens.

Diferente do Batman de O Cavaleiro das Trevas, Miller e Mazzucchelli mostram um personagem frágil, inseguro, mas determinado a combater o crime pelas ruas de Gotham – mesmo que para isso tenha que pagar um preço – no início de sua trajetória até meter sua bota nos queixos do Superman…

A dupla Miller-Mazzucchelli vinha de um outro sucesso astrondoso com o Demolidor no arco A Queda de Murdock para a Marvel Comics. Batman: Ano Um se propunha não apenas a apresentar o personagem e sua origens, mas em explicitar seus elementos fundamentais e como aqueles primeiros anos atravessariam sua jornada de combate ao crime.

Não é por acaso que Batman: Ano Um está na gênese de Batman Begins, de Christopher Nolan – tanto que uma das cenas da HQ (o resgate do filho do Comissário Gordon) é literalmente reproduzida nas telas. Batman: Ano Um é, sem dúvida, um dos clássicos indispensáveis do personagem.

2. Batman: O Cavaleiro das Trevas

Batman: O Cavaleiro das Trevas

E foi em fevereiro de 1986 que Frank Miller decidiu lançar um sopro de renovação no velho morcegão e chacoalar o pequeno mundinho do personagem de cima a baixo. Batman: O Cavaleiro das Trevas foi o grande responsável por estabelecer as características do personagem às portas do novo século.

Miller lançou as bases para que muitos autores expandissem a mitologia do Batman e pistas para que sujeitos como Alan Moore e Grant Morrison lançassem toda a sorte de possibilidades narrativas, focando nas fragilidades, valores e medos do personagem.

A Gotham City de Batman: O Cavaleiro das Trevas é parte de um mundo em permanente de tensão, já que na realidade da série, a Guerra Fria não acabou e o ainda presidente Ronald Reagan crê que combater os soviéticos é o que realmente importa – e o Superman é tão somente um mero instrumento contra isso.

Em Batman: O Cavaleiro das Trevas temos um Bruce Wayne que pendurou a capa do Batman e segue vivendo sua vida em uma Gotham City ainda mais distópica do que nos acostumamos a ver. Entretanto, um dia, depois de uma visita ao Beco do Crime, Wayne passa a ser atormentado pela visão de seus pais assassinados e é provocado a reassumir o papel de Batman e combater uma cidade completamente tomada pelo crime e por gangues.

O morcegão decide retornar à ativa no mesmo instante em que Harvey Dent, o Duas-Caras – agora recuperado da mutilação que fez com que perdesse a sanidade -, tenta explodir parte de Gotham com uma bomba. A partir deste primeiro episódio, vemos a ascensão de um outro Batman – que não se importa em partir a coluna de um lider de gangues diante de uma platéia, quebrar o pescoço do Coringa ou mesmo de meter uma botinada nas fuças do Superman.

Na verdade, Batman: O Cavaleiro das Trevas poderia ter sido o nosso primeiro lugar, seja pelo impacto causado ao personagem e às Histórias em Quadrinhos. Mas, só porque o Frank Miller ousou pensar em um Batman: O Cavaleiro das Trevas 2, não levará o caneco por aqui…

1. Batman: A Piada Mortal

Batman: A Piada Mortal

Esta, a meu ver, é a história definitiva de Batman. Não apenas por apresentar a gênese de seu principal vilão, nem por mostrar como os dois se completam e reajem, mas, sobretudo, por apresentar um carrossel de eventos que culminam em uma interrogação; em algo aberto.

Em linhas gerais, Batman: A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland, é uma história do Coringa e de como ele e o Batman batalham sobre uma linha tênue. Não é por acaso que a HQ começa e termina com o mesmo quadro e, no vigésimo quinto quadro, o Batman entrega o que inevitavelmente acontecerá em algum momento entre os dois.

Nunca entendi por que nosso relacionamento é tão mortal, mas não quero ter a sua morte nas minhas mãos – afirma o Batman logo nas primeiras páginas para alguém que se passa pelo Coringa no Asilo Arkham.

Batman: A Piada Mortal é uma aventura sobre vida e morte e sobre o que estas duas condições provocam em dois personagens em uma escalada antagônica. Uma das minhas cenas favoritas é o Carrossel do Comissários Gordon: um passeio único preparado pelo Coringa para quebrar um de seus mais conhecidos algozes enquanto espera o Batman para o resgate.

O que vemos, portanto, em Batman: A Piada Mortal é um carrossel de eventos que nos leva, no fim, a uma das mais impressionantes discussões que já tomaram as Histórias em Quadrinhos, quando Grant Morrison sugere que Alan Moore faz com que o Coringa seja morto pelo Batman e que a tal Piada Mortal do título é este arranjo final.

Enfim, Batman: A Piada Mortal é um clássico, uma história poderosa do início ao fim e, sem medo de errar, a minha favorita de todos os tempos.

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