Tenho lado. Sim, desde sempre. Desde que percebi que, mesmo que não o queiramos, é imprescindível ter lado. Talvez seja maniqueísmo, mas, vejam: ter lado implica uma definição de princípios, uma reunião consolidada de idéias e uma perspectiva prática inerente a tal conjunto.
Ter lado é necessário. Sempre estive do lado daqueles que sentem ou sentiram a miséria na própria carne; dos que não julgam pela cor da pele, credo ou desejos; dos que estão dispostos a ouvir, mesmo que o que ouvirão seja avesso ao que se acredita; dos que creem que o injusto não pode prevalecer; dos que sabem perder porque, ao aceitar tal, ganham mais; dos que aceitam perder, mas que não se deixam dobrar na direção do malfeito; dos que amam, odeiam, percebem, perdoam.
Este sempre foi meu lado. Não tenho e, creio, nunca terei qualquer chance de convívio com quem não compartilha de tais premissas. Chame do que quiser. Diga que não devemos separar o mundo entre “nós” e “eles”. Mas, de verdade, esta é uma idéia necessária: não tenho necessidade e não me interessa converter feras. Para elas, silêncio.
Às feras pouco importa meu lado; pouco importam meus valores; pouco importam os meus. Às feras não interessa o respeito, a doçura e o bem querer. Às feras importa a fúria e a cegueira da violência. Ela, a violência, cega desde sempre, cala pelo grito.
Temos lado. Eu e você temos. Sempre tivemos e sempre teremos. Estou do lado de cá. A calmaria não é um sinal de fraqueza aqui. É, sobretudo, a espera. Esperamos. Este lado vence. Sempre. Vencerá.
Espere e confie.