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Talvez devessemos falar sobre algumas mentiras, não!?

Há algo não dito sobre as últimas eleições. Talvez “não dito”, mas pouco discutido ou discutido de um modo enviesado e, claro, alheio por vezes à real dimensão do problema que enfrentamos.

Enfrentamos e perdemos para a mentira, independentemente de quem levou a melhor nesta eleição. A desfaçatez e o jogo canhestro levaram a melhor – especialmente aquele que vem embalado para presentes com uma tag à moda #FakeNews.

O termo me constrange por ser jornalista e pesquisador da comunicação. Isto porque a informação incorreta, inverídica e, porque não, equivocada, não está alinhada às práticas tradicionais e que compõem os pilares do Jornalismo.

Sempre que ouço algum jornalista falar em #FakeNews, tenho vontade de incinerar o diploma ou qualquer outro certificado que o sujeito tenha obtido em sua tragetória.

Isso porque, desde 2016, parece que nós esquecemos que o que é fake na verdade sempre foi marrom. Marrom é a informação publicada sem as devidas apuração, verificação e análise. Este tem sido o drama do Jornalismo de hoje – com reflexos em todas as searas da Comunicação.

Miremos o que ocorre em nosso país desde 2014: tempestades e tempestades de informações difundidas sem apreço pelo fato ou simplesmente pela verdade. O efeito disso já conhecemos: a torrente de chorume despejada através das mais diferentes redes atingindo a todos e estes, inertes ou apáticos, assumiram a mentira como verdade; adotaram a maquinação como a realidade.

Este é, a meu ver, o ponto que devemos combater: os efeitos de não apenas uma, mas várias agulhas que amplificam os efeitos da informação sem fundamento em massas que não se movem como que regidas pelos meios massivos, mas, antes, pelo fragmentado universo da comunicação mediada por dispositivos/práticas digitalmente expandidas.

Lidar com tal transição implica, sobremaneira, reconhecer que nossos modos de lidar com a informação fragmentária, em expansão e afeita a intervenções simbólico-narrativas, como a das diferentes redes digitais, é frágil – e calcada em uma busca inóqua por reconhecer padrões que inexistem no digital, mas que são por este ambiente emulados.

As redes representam a esfinge das agulhas envenenadas. Decifrar o que ela tem a dizer é algo que urge. Entretanto, periga que ela nos devore pedaço ante pedaço até que percebamos o que é necessário para domesticá-la.

Enquanto isso, seguimos lidando com seus efeitos e, como recentemente, suas crias…

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